Outro dia descobri, no livro Linha do tempo do design gráfico no Brasil, da Cosac Naify, que Continental Op foi o primeiro livro lançado com duas capas no Brasil. Foi o início do uso de fotografias em capas de livros. As capas são de João Baptista da Costa Aguiar e as fotografias de J.R. Duran. O livro, no Brasil, foi publicado pela Companhia das Letras em 1988.
O prefácio de Ruy Castro é um dos melhores textos sobre literatura policial que já li. Divertido, bem escrito e didático.
Ruy Castro já começa explicando o termo hard-boiled. Na culinária, significava ovos cozidos além do ponto. Mas, no final dos anos vinte, esteve relacionado ao estilo fervente de escrever. Talvez Hemingway tenha inventado o estilo hard-boiled, caracterizado por narrativa rápida, diálogos curtos e coloquiais, personagens violentos. Hemingway influenciou muitos autores e esse mistério tipo hard-boiled pode ter surgido em seu conto de 1928: The Killers. Hemingway gostava de Hammett. Hammett teria ficado famoso primeiro, escrevia em uma revista chamada Black Mask e em outra super respeitada, The smart set.
Ruy Castro conta que os críticos gostaram da ficção urbana de Hammett. E assim: “Hammett vestiu um trench coat em seu detetive, calçou-lhe galochas, enfiou-lhe um chapéu na cabeça, armou-o com um 38 e obrigou-o a sair de casa, mesmo que estivesse chorando” (p. 9). Ele conta, também, que Hammett introduziu na literatura a mulher linda, perversa e sem escrúpulos. Op, o detetive de Continental Op, é técnico e profissional.
Eu gosto desse estilo hard-boiled, de frases escritas como tiros expelidos do pensamento de um personagem que ri de si mesmo, sabendo que o epílogo estará a seu favor. Um exemplo: “Sempre sentira um razoável orgulho de minha capacidade de socar. E era desapontador ver aquele homenzarrão aguentar o máximo que eu podia desferir sem soltar um grunhido sequer. Mas eu não estava desanimado. Ele não podia aguentar aquilo para sempre. Resolvi trabalhar metodicamente” (p. 197). E depois: “O golpe doeu. Mas deve ter doído mais nele. Um crânio é mais duro do que um punho”.
Tem um filme do Wim Wenders, Hammett, de 1982, que tem esse ritmo. O filme é baseado em um romance de Joe Gores que tem Dashiell Hammett como personagem.
Achei os contos de Continental Op completamente diferentes de O Falcão Maltês. Essas diferenças são assunto para outro texto.
Vá em frente sempre. Vc é mto boa no que faz e escreve. Parabéns. Orgulho-me de vc. Abraços.
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Obrigada, sua opinião é importante! Beijos!
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Aprendi muito sobre estilos. Belo texto
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Obrigada, Nanete, eu é que aprendo com você! Beijos!
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