“Nunca me interessei por palavras cruzadas ou qualquer outro tipo de enigma mas gosto muito de romances policiais. Nunca tento adivinhar quem cometeu o crime e se o fizesse estaria certa de adivinhar erradamente mas gosto do assassinato de alguém e de como ele se desenrola e Dashiell Hammett era grande nisso” (Gertrude Stein, Biografia de todo mundo, Cosac Naify, p. 10).
“Só tendo o epílogo constantemente em vista, poderemos dar a um enredo seu aspecto indispensável de consequência, ou causalidade, fazendo com que os incidentes e, especialmente, o tom da obra tendam para o desenvolvimento de sua intenção” (Edgar Allan Poe, A filosofia da composição, em Poemas e ensaios, Globo, p. 112).
Lendo essas suas falas, eu me pergunto: muitos leitores, durante a leitura, não estão preocupados em prever quem é o assassino. Eu, por exemplo, não tenho essa preocupação. Leio como G. Stein, gosto de saber como a história vai até o fim e não tento adivinhar. Quero me surpreender. O processo me atrai bastante. E se muitos leitores não se preocupam com isso (é claro que muitos querem saber, o que é legal), por que o autor não pode, também, descobrir o desfecho ao longo da escritura?
É muito difícil, para mim, fazer como Edgar Allan Poe sugere: conhecer o epílogo desde o início. De certa forma, é inegável que o tom da obra leve a um final coerente, daqueles que, quando acontecem, o leitor pensa: foi a melhor saída.
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Sobre Paula Bajer Fernandes
Sou escritora e moro em São Paulo.
Além de livros publicados (na área jurídica e romances), além de contos, tenho dois blogs: Lolita e Nove tiros em Che Lidu.
Criei o blog Lolita em 2009 para falar de imagens, lugares e escritos (http://lolitaimaginario.com).
O blog Nove tiros em Chef Lidu (cheflidu.com) é um espaço sobre processos criativos e novelas policiais. Todo livro tem um outro lado, como as cenas que não entraram em um filme e ficam no DVD, entrevistas com atores e o diretor. Senti vontade de prosseguir um pouco no romance Nove tiros em Chef Lidu e aproveitei o lançamento em formato digital para começar o blog. O blog continuou.
Sou autora de Viagem sentimental ao Japão (Rio de Janeiro, Apicuri, 2013), Asfalto (livro de contos em formato digital), Nove tiros em Chef Lidu (Editora Circuito, 2014 e e-galáxia, e-book) e Feliz aniversário, Sílvia (Editora Patuá, 2017). Em abril de 2016 publiquei o fanzine O mergulho, com textos e fotos minhas e direção de arte e ilustrações de Rodrigo Terra.
Integro o Coletivo Martelinho de Ouro. Participei de cinco publicações do Martelinho: Achados e perdidos (RDG, 2013), 50 anos daquele 64, Serendpt (Livrus), publicados também em formato digital. Em novembro de 2015 foi publicado o fanzine Fancine. Sub, livro de contos do Martelinho sobre tudo que pode estar oculto, foi publicado pela Patuá no fim de 2016. A Editora Patuá publicou, no fim de 2017, Eu não sou aqui, do Martelinho. Tenho dois contos no livro. Em julho de 2018 o Martelinho publicou Sóis e sombras, fanzine distribuído da Casa do Desejo, na Flip, e na Balada Literária, em São Paulo.