“The female detective” foi escrito por Andrew Forrester, pseudônimo de James Redding Ware. Foi publicado em 1864, Londres.
Encontrei uma edição de 2012 com prefácio de Alexander McCall Smith que explica como, na época, às mulheres não era comum a atividade de investigação criminal e, por isso, a personagem feminina como detetive era muito interessante. Há, no livro, ainda, uma introdução de Mike Ashley, em que ele adianta que a personagem do livro é a primeira mulher detetive na ficção. Seu nome é incerto, nem mesmo a polícia sabe ao certo. É conhecida como G. Na época, não havia detetives mulheres na Inglaterra. Nos Estados Unidos a primeira detetive foi Kate Warne, admitida por uma agência de investigação em 1856. Tinha 23 anos. Por isso, ele diz, “The female detective” estava à frente de seu tempo. A personagem do livro trabalha de maneira independente, mas auxilia a polícia.
Na introdução do próprio livro, a detetive escreve: Who am I? Quem eu sou? Ela fala que sua profissão é útil, mas desprezada. Tanto que a escondeu de todos à sua volta. Seus amigos pensam que ela é modista. Ela compara suas atividades às de espionagem. A mulher espiã tem mais possibilidades de ir a diversos lugares sem despertar suspeitas que os homens detetives. Escreve para mostrar a importância de seu trabalho.
O livro é constituído de narrativas mais ou menos longas em primeira pessoa. Conta como ficou sabendo dos crimes, fala das pessoas com quem conversou para descobrir os autores, comenta os casos de maneira simples, às vezes irônica, sempre muito pessoal. Emite opiniões, inclusive, sobre o sistema de justiça da época. Ela conta os casos com leveza.
A primeira personagem detetive feminina em novelas policiais foi criada por escritor, sexo masculino. As narrativas têm ponto de vista feminino, embora eu não consiga definir, exatamente, o que seja um olhar feminino na escrita. Acho que há detalhes nas descrições que não seriam observados por um homem e talvez estejam um pouco exagerados, ou forçados. Afinal, um escritor escreve. Se é do sexo masculino e escreveu como mulher, na primeira pessoa, então refletiu sobre a narrativa feminina, naquela época. Jane Austen já havia publicado seus romances, assim como Charlotte Brontë, que o fez sob pseudônimos masculinos.
Faz tempo quero escrever sobre a primeira mulher detetive na história da ficção policial. Outras vieram e minhas prediletas, hoje, são Kay Scarpetta e Lisbeth Salander.